quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A "gospelização" da cena pernambucana, ou como tentar destruir eventos e bandas do seu estado


Acompanhar a cena underground em Pernambuco, em especial no que diz respeito às bandas que possuam uma mensagem religiosa cristã, é algo que durante anos simplesmente passou de uma cena grande, em quesito de público, para uma luta novamente nos subterrâneos, distante dos "grandes palcos" e "eventos gospel" similares. Bandas que outrora tocavam em eventos patrocinados por produtoras de renome simplesmente foram lançadas no ostracismo dos grandes circuitos, e no seu lugar passou-se a dar lugar a apenas bandas de grande sucesso nacional, muitas vezes sem nenhuma relação sequer com o rock, ou mesmo bandas importadas que só tocam com diversos luxos absurdos e cachês altíssimos.

A coisa certamente piorou muito a partir de 2006, quando eventos underground simplesmente pareciam ter sido varridos, mas lentamente foram retornando, mas esse retorno passou a ser basicamente eventos totalmente independentes, e produtoras de eventos de maior alcance na região simplesmente se fecharam por completo a partir dai. Passou-se a investir em muitas atrações de renome, mas que além de não possuírem ligações reais com o rock, ainda por cima trazem apenas uma mensagem irrelevante, pseudo-cristã, clichê, e - verdade seja dita - na caça de um belo cachê, porque senão nem sequer tocam aqui. Diferente da atitude do underground - que muitas vezes paga do próprio bolso para passar seu som e sua mensagem - essas aves de rapina apenas sugam a grana dos trouxas que fazem questão de pagar - e caro - para vê-los, mas não vão para eventos as vezes gratuitos ou com ingressos simplórios.

Sim, porque como ouvi muitas vezes de pessoas alienadas pela "gospelização" da cena de Pernambuco, "eu não pagaria pra ver uma banda daqui, as bandas de fora é que valem a pena ouvir e ver". A mesma coisa que já ocorre, infelizmente, na cena underground em geral nesse país, como diria Edu Falaschi "somos paga-paus de gringo" mesmo.

Um dia desses um amigo meu da Paraíba me perguntou porque nós do underground não tocamos em eventos gospel, daí expliquei toda a situação como ela é aqui, dai ele me disse que lá não existia essa separação, e ele não entendia porque nós não queríamos nada com o gospel. Respondi de uma maneira bem clara "amigo, não somos nós que não queremos nada com essa turma, ELES é que nos vomitaram de junto deles".

A verdade é essa: até quando essa turminha chama bandas daqui, são bandinhas que fazem parte de seus circuitos e que não questionarão suas exigências de "venda de quantidade X de ingressos, venda de camisetas, etc", parecendo mais micareta do que um evento sério. E o pior: o número de "produtores" espertalhões que estão entrando nessa não tá no gibi. São, como disse Ivan, baixista/vocal da banda IMPLEMENT na Extreme Brutal Death Zine n° 2, "uma multidão de posers", escorados em falsas pilastras de oportunistas que não têm um pingo de respeito pela cena. Já vi um desses dizer na cara dura que as bandas daqui não possuem nenhuma relevância nacional, que eventos underground como os que ocorrem no mínimo uma vez por mês em bairros só com bandas locais atrapalhavam seus eventos, que esse tipo de evento não valia nada, que os dele eram os melhores, etc. Típica postura de alguém que não valoriza nem sequer o próprio público, um tremendo imbecil.

É assim que eu digo que a cena "gospel" desse Estado, tal como decerto ocorre em outros estados do Brasil, não representa o underground em nada. Depender deles apenas irá reduzir nossa cena ao nada. Podemos (e devemos) nos unir e realizar eventos sem depender desses fajutos que apenas se aproveitam dessa turminha do "maria-vai-com-as-outras" que dão valor ao que as rádios-jabás e emissoras de TV carniceiras divulgam como a nova moda. Longa vida a eventos como Underblood Fest, Underguape, Royal Blood Fest, Nova Descoberta Underground, Against the Hell e outros tantos que hão de surgir para valorizar mais ainda nossa luta, pois ela não pára.